13/02/2012

Cego

Não acredito em dogmas. Não acredito em utopias. Não acredito em messianismos. Não acredito em quem promete coisas completas e acabadas e perfeitas. Prefiro o pragmatismo, com uma dose saudável de ceticismo. Mas assentes em valores claros, optando eticamente. Feitas essas opções, e uma vez apresentadas, já é aceitável fornecer uma "visão" do futuro - isto é, na prossecução de que valores se imagina o futuro a desenrolar-se. Ora, é justamente isto que nos últimos anos não nos é apresentado pelos dirigentes europeus (pelos dirigentes de países europeus que, devido à correlação de forças, são os dirigentes europeus de facto). O que ouvimos são repetições ritualísticas de dogmas, reiterações que são quase da ordem do obsessivo-compulsivo, negações do real em nome da cartilha. Perante o que está a acontecer na Grécia, e não só, não nos é dito para quê - naquele sentido acima referido, em nome de que valores e de que visão do futuro. Este é o pior efeito da ideia mais-que-ideológica de que não há ideologias e de que os governos são a simples administração de uma espécie de leis da natureza. Estamos a ser vítimas do pior reacionarismo de todos - o que se apresenta como neutro, desprovido de intenção, o que abre às portas às piores ideologias, utopias e messianismos. Em suma, estamos a ser vítimas de uma política que já não é só a política da defesa dos poderosos, mas algo de definitivamente divorciado da ética e dos valores. Sem "visão". Cego.

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