Ontem, numa conversa de sala de aula, fui relembrado de como na época "áurea" do antissemitismo em Portugal um dos mitos mais comuns era o de que os judeus sugavam o sangue das crianças (gentias, suponho). Imediatamente me ocorreu o rumor que circulava pelo Portugal profundo, no período do 25 de abril, sobre os comunistas comerem criancinhas ao pequeno-almoço (e que era também uma forma de humor sobre o anticomunismo, mas vai dar ao mesmo em termos de sistema cultural). E, por fim, as confusões entre homossexualidade e pedofilia, que tiveram o seu grande surto durante o caso casa Pia. Em suma: "as crianças" são o lugar da ansiedade e da acusação, matéria ideal para marcar a suposta perversidade de quem está fora do sistema - religioso e étnico, político, sexual.
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