28/03/2012

Ansiedade

Surpreende, o relativamente baixo nível de contestação popular à situação em que nos encontramos? Nem por isso. Alguns acham que se deve à interiorização da submissão e resignação, vindas do fundo dos tempos e, sobretudo, do salazarismo. Não me parece uma boa hipótese. Não foi aqui, afinal, que se fez o 25 de abril? Outros acham que se deve a uma psicologia coletiva de fatalismo. Também não me parece uma boa hipótese, considerando que as teorias que imaginam os povos como pessoas foram há muito descartadas. Creio que há duas linhas boas de explorar. Uma é a sociedade-providência, ou seja, o facto de aqui ainda ser possível usar as almofadas familiares para atenuar os efeitos da crise. A outra é a ansiedade de status, o medo do ridículo e a vergonha social que caracterizam os nossos processos de socialização - reforçados pelo caráter muito recente da ascensão social, quase que em massa, à "classe média". A acontecer mesmo, a contestação poderá bem ser "histérica" e desorganizada, interpessoal, feita de episódios de violência verbal e física em micro-contextos e, claro, de violência, sobretudo psicológica, contra o próprio... Ansiedade prolongada, explosão diferida?

1 comentário:

  1. Não sei quais sejam as causas, mas que é uma moleza, um medo, uma falta de espinha, isso é, uma moral ambígua, uma no cravo outra na ferradura, uma malevolência secreta, um conluio de corrupção moral e factual a todos os níveis da sociedade...

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