01/03/2012

Pária

Devemos ficar contentes, enquanto país, pela reabilitação de Barros Bastos. A figura da reabilitação serve para afirmar que uma comunidade deixou de aceitar determinado tipo de comportamentos. Neste caso, o antissemitismo, particularmente grave na História portuguesa. No entanto, há sempre um pormenor que me perturba neste caso. Acontece que parte da acusação ao Dreyfus português assentava nas supostas práticas homossexuais. Ora, a retórica do processo de reabilitação e da sua divulgação parece referir sempre aquela acusação como injusta nos factos. Só que, para lá disso, ela é injusta em si mesma, isto é, no achar-se que a homossexualidade possa ser um fator de insulto. Claro que o era na época. Mas se se usa esse argumento também se poderia usar (e mal, claro) o de que o antissemistismo seria justificável. Os processos de reabilitação servem para afirmar o que aceitamos ou não hoje. Há que ser claro: ao reabilitarmos Barros Bastos devemos querer dizer duas coisas: que o antissemistismo é intolerável e que usar a homossexualidade como acusação negativa também o é. Afinal de contas - e há muito quem não queira ver isto - os processos acusatórios por judaísmo e por homossexualidade são historicamente muito parecidos, assentes ambos na figura de opróbio do "pária".

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