02/04/2012

in a strange place


A maioria não sorri na rua ao cruzar-se com estranhos, tipo a passear os cães ou assim. A maioria não flirta. A maioria reage mal se for abordada sedutoramente. A maioria está de cara fechada até nos sítios de sociabilidade, numa discoteca e assim. A maioria finge que não está interessada em ninguém. A maioria não avança, a maioria let them come to you e eles never do. A maioria entra em competição assim que conhece alguém. A maioria demonstra, com os olhos, a pose, a roupa ou as palavras, que está acima dos outros, que os outros não lhe interessam. A maioria não consegue conhecer ninguém num corredor de supermercado, num café, numa bomba de gasolina - é preciso ser-se apresentado por alguém. A maioria circula em grupos fechados. A maioria não elogia, a maioria torce o nariz a algo de bom ou que ouviu dizer que é bom, a maioria tem inveja, tem complexos e, mesmo assim (ou por isso?) continua a ouvir na cabeça os pais dizendo-lhe que são os melhores do mundo. A maioria não critica honestamente. A maioria não ri de si mesma. A maioria tem medo. A maioria, quando sai, quando vai "lá fora" (quando sai da gaiola, portanto) vê que há outras maneiras, experimenta, até se entusiasma, mas regressa depressa aos velhos hábitos. A maioria nem latina é, que a maioria não ri, não dança, não se desmancha. A maioria é aflita. A maioria é provinciana. A maioria tem a mania, a maioria tem manias. A maioria vive em Portugal. 

5 comentários:

  1. obrigado Miguel... é sempre bom ler-te! este caráter nacional, né? a nossa «comunidade imaginada»... norte a sul, o mesmo refrão... e teremos profundidade para nos arrogarmos dessa tal «Saudade»? tretas... tanto que nos têm enganado...

    CENSURA CENSURA CENSURA CENSURA CENSURA CENSURA CENSURA CENSURA CENSURA CENSURA CENSURA CENSURA CENSURA CENSURA

    percebes, agora?

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  2. Professor há algo que eu não entendo. nasci fora do país mas vivi praticamente toda a minha em Portugal. o meu percurso universitário e profissional tem sido aqui. tenho falado com colegas meus que trabalham e estudam lá fora que me dizem «bem se Portugal tivesse os problemas que aqui temos!». isto pode soar ao provincianismo típico de quem vai para fora, mas não deixa de ser verdade. por exemplo, Portugal tinha muita coisa para dar certo. não lidamos com um problema cultura/político/económico/social etc, etc, que são as nacionalidades/autonomias em Espanha! por outro, ainda não sentimos os problemas causados por políticas de imigração irreflectidas, cujas consequências são desastrosas, a par da criminalidade, o crescendo da extrema-direita... isso é terrível em Itália, na Alemanha, na França.

    sim, porque esta crise para mim vem de há muito. sou do tempo em que os escudos já eram contados para os filhos estudarem, etc, etc... há muito que os da «velha guarda» assumem o papel de velhos do Restelo. difícil aqui é pensar diferente. e da nossa história recente (uma guerra colonial vergonhosa) nunca falamos. mas somos os primeiros a denunciar os alemães, os americanos, os franceses. porém, nunca há uma definição de lugar. e claro, sempre o passado e gesta heróicos...

    «posso assinar por cima?»

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  3. «posso assinar por baixo?» queria dizer

    B.

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