14/07/2012

sexta, 13

Sexta-feira, 13. Você perde as chaves do carro na praia porque se acha muito esperto e pensa que isso nunca lhe vai acontecer e coloca-as no bolso pouco fundo de uns calções. Pânico: é a única que tem/tinha, estupidamente. Junto com amigos que, felizmente, encontrou lá, fazem a figura bizarra de catadores de lixo de areal. Só encontram isqueiros. No café da praia pergunta se alguém entregou alguma coisa. Nada. Pede o número de telefone do bar para ligar mais tarde. O empregado pede o seu número. Você não dá. Ele insiste. Você dá. Awkward - it's really not the moment for that. Os amigos dão-lhe boleia. Você tem de vigiar um exame daí a nada. No caminho liga para a oficina da marca do carro. Explica que, estupidamente, não tem uma segunda chave. Quem o atende trata-o como uma criança (ah, a capacidade maternalista das atendedoras). Diz-lhe também que só abrem na segunda-feira, para lhe fazerem nova chave. Pensa na logística complicada da coisa: vir buscar o carro de reboque, onde o colocar, esperar até segunda... Stress. Chega à universidade, em cima da hora do exame, corre a avisar as alunas que ainda vai ao gabinete buscar os enunciados. Está de calções e t-shirt, vai largando areia por tudo o que é sítio, cruza-se com colegas de beca vindos de um doutoramento. Consegue começar o exame com um atraso mínimo e sai para o corredor para ligar à seguradora. "Ah, mas a sua apólice não cobre a perda de chaves, desculpe". Fuck you very much e liga ao ex-cunhado (há "ex" cunhados?) porque sabe que ele conhece uma oficina que pode ajudar. Ele diz-lhe que não devia ter dito que perdeu a chave mas sim que lha roubaram. Oh, Portugal, what a lovely place. Too late, though. E relembra-o do ACP. Ah, pois é, ao fim de décadas finalmente tornou-se sócio no ano passado e nem se lembrava. Liga ao ACP. O problema começa a resolver-se, a combinação complexa sobre levar o reboque a um estacionamento de praia em terra batida e o que fazer com o chaço está quase concluída, você acha o ACP o máximo e pergunta-se se contará como clube de futebol ao qual possa finalmente aderir, quando a bateria do seu telemóvel morre. Volta à sala do exame para procurar o carregador que, felizmente, trouxe. Nervoso, deixa cair os conteúdos da mochila sobre a mesa. As suas cuecas, que não teve tempo de vestir (a humidade do fato de banho incomoda-o, but what the heck) aterram à frente das alunas. Mas, vá, são Aussibum, não uma porcaria qualquer. Liga o telemóvel à corrente e telefona de novo ao ACP, mas a conversa tem de ser feita ali, em frente às alunas, que ficam a saber que "sim, OK, é a praia 19, já que insiste, embora oficialmente o carro esteja no parque da Belavista, paragem 17, mas sim, 19 como designação genérica...." (as coisas que o senhor do ACP sabe). Depois tem de procurar quem lhe dê uma boleia noturna, encontra um anjo que se presta (o dia esteve cheio de anjos prestáveis). Acaba o exame, corre para casa, toma banho, veste-se, espera pela boleia. Pelo sim, pelo não, vasculha gavetas e descobre uma chave antiga e partida, mas você tinha a certeza que ela tinha um código diferente da que perdeu, feita recentemente para substituir a velha. Leva-a, pelo sim, pelo não, porque o homem do reboque, que entretanto lhe liga porque não faz ideia onde é a praia, lhe diz que ela servirá pelo menos para abrir a porta, caso contrário será difícil mover o carro. Já atrasado, vai até à Costa, liga várias vezes ao homem do reboque, finalmente encontra-o. Chegam ao carro. A chave velha abre a porta. E... a chave velha funciona na ignição. No mínimo embaraçado, fica ali a rir com quem lhe deu boleia, naquele vazio noturno e marítimo. Aproxima-se um carro. É o empregado do bar de praia. Simpático,  pergunta-lhe se resolveu o problema e que se quiser tomar alguma coisa abre o bar, que estava fechado. Thanks, but no thanks. Depois de o senhor do reboque ter insiste que lhe telefonasse quando chegasse a casa para dizer se tudo correu bem (isto está cheio de anjos, graças a d___, mas também deve haver qualquer coisa infantil que você emite). Regressa a Lisboa. Como lhe dirá mais tarde a amiga que lhe deu boleia, "isto não teria metade da graça se não houvesse afinal outra chave - e a funcionar". Estaciona o carro, faz-lhe uma careta feia, vê as horas: é quase dia 14.

3 comentários:

  1. LOL
    No lo creo en brujas, pero que las hay, ¡las hay!

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  2. o meu pedal de efeitos falhou justamente no dia do concerto. trezentas voltas para achar um transformador a duas horas do concerto. no final, também funcionava a pilhas. no dia seguinte descobri. não foi numa sexta feira 13, mas foi inevitável a comparação.

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  3. ah, mas o concerto fez-se, atenção. com o pedal. só que no dia seguinte descobri que tudo podia ter sido mais tranquilo.

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